Estudos Para Uma Odisséia/2013



Há milhares de odisséias na Odisséia e o primeiro desafio daquele que pretende aventurar-se nessa obra, que se confunde com a própria fundação da cultura ocidental, é construir o seu próprio caminho, descobrir a sua própria identidade em meio a um oceano de desejos nem sempre conciliáveis. O coletivo Instrumento de Ver, capitaneado pelos diretores Thierry Trémouroux e Goos Meeuwsen, assumiu o desafio deste retorno à Odisseia, nossa Ítaca, aqui Brasília, DF.

Dialogando livremente com a obra de Homero, Estudos para Uma Odisséia foi elaborado a partir de uma residência com o coletivo e convidados, que propôs exercícios sobre o tema, em uma proposta de trazer para o palco artistas de diferentes linguagens.

Uma colaboração entre o coletivo Instrumento de Ver, o diretor belga Thierry Tremouroux (Coletivo Em Companhia D.) e o diretor holandês Goos Meeuwsen, a partir de uma idéia original de Thierry, com a colaboração de Raquel Karro.

Elenco e criação: Beatrice Martins, Camila Guerra, Cícero Fraga, Daniel Lacourt, Elisa Teixeira, João Saenger, Julia Henning, Luiz Oliviéri, Maíra Moraes e Willian Lopes
Atores convidados: Clarisse Zarvos, Catharina Caiado e Pedro Henrique Müller
Design gráfico: Bruna Daibert
Áudio-visual: Cícero Fraga
Produção: Gabi Fernandes
Fotografias: João Saenger











Sinopse NOSSA ODISSÉIA:
Livre e "ludicamente" inspirada na obra de Homero, Nossa Odisséia trata-se de um módulo de investigação do ator a partir do conceito da caminhada, do deslocamento, do percurso, da trajetória, como, por exemplo, da sua casa até o teatro, dentro da sua própria casa, dentro da cidade de Brasília, entre você e o outro, de dentro pra fora de si, e vice e versa. Para se criar um espetáculo é preciso ser um pouco “mitômano” e amplificar as histórias que nós ouvimos ou inventamos. É assim que elas se transformam em lendas e mitos. Muitos trabalhos que realizamos com atores nascem de bilhetes, cartas pessoais, depoimentos e pequenas confissões “no divã”, quase no ouvido do outro. Pouco a pouco, inscrições, desenhos, maquetes, objetos pessoais ou achados no chão, vão alimentando a nossa imaginação, formando enigmas desvendados pelos atores “antropólogos”. No meio desse caos necessário, pequenas paisagens visuais e sonoras começam a surgir, permitindo a construção e desconstrução de imagens e de interpretações. O ator no teatro contemporâneo não compõe unicamente a partir do personagem e dos conflitos por ele enfrentados, comumente, vemos montagens de textos considerados clássicos nas quais a encenação engloba temas da atualidade ou onde o próprio ator acrescenta depoimentos pessoais, comenta acontecimentos de épocas não pertencentes ao contexto histórico da trama, analisa as atitudes de seu personagem em relação às que ele próprio tomaria, engloba o público, ou assume o caráter de acontecimento cênico; de que ali se está “fazendo” teatro, naquele espaço, com aquela luz, com aquelas pessoas, fazendo com que o acontecimento teatral se torne mais um dos possíveis assuntos da dramaturgia. O ator contemporâneo lida também com o presente, fazendo opções em cena, o que afeta de maneira sensível o seu processo de composição.
Thierry Trémouroux, Raquel Karro.

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Sobre a obra original: A Odisséia, que narra a longa viagem de regresso de Odisseu a sua pátria, Ítaca, após o término da guerra de Tróia, compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis sílabas). A ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Odisseu ao lar. O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói. A "Odisséia" é a história do retorno ao ideal humano, a recuperação de valores humanos como: honestidade, lealdade, honra, coragem, inteligência, sabedoria, humildade e amor- substânciais para a existência humana e que devem inspirar profunda meditação sobre a condição humana. Há algo de imperecível na fase heróica da existência humana. O seu sentido universal do destino e a verdade permanente da vida. Ou seja, algo de universal e "atemporal" nas virtudes heróicas transmitidas em uma história de aventuras, por mais que esses valores tenham adquirido contornos diferentes ao longo dos séculos.